CENA 2
Enquanto Renato Dionísio narra, os atores de “O Minotauro” montam o cenário de “A
Tormenta”. Velas, garrafas vazias e pétalas de rosas são distribuídas sobre o chão. Há
também alguns cubos.
1 o NARRADOR. Meu nome é Renato Dionísio...
2o NARRADOR. ... A história deste grupo só me interessa por que ali se deram os
últimos capítulos que as pessoas conhecem sobre a história de meu pai.
1o NARRADOR. Poucas pessoas o conheceram.
2o NARRADOR. Se é que alguém, de fato, pode dizer que conhece alguém.
1o NARRADOR. Durante os dias, alguns trabalhavam, outros estudavam. A noite, no teatro, eles encontravam a chance de serem o que não podiam ser durante o dia. Era assim também com meu pai.
2o NARRADOR. Quando ele voltou para o grupo, ele viveu dias de uma alegria que
talvez jamais tivesse sentido. Quando ele voltou para o grupo, ele reencontrou o prazer de atuar. Quando ele voltou para o grupo, ele descobriu o que era se apaixonar por alguém.
Catarina está sentada sobre um cubo. Ela medita com fones de um MP3 player no
JOÃO LÓQUI. Sinceramente? Eu não acho que tenho tanto a ver com teatro. Quando eu estou em cena, eu me acho duro. Eu estou aqui por que eu gosto das pessoas. E porque as vezes entra uma menina nova que vale investir. Ah, é claro, é legal também quando as pessoas aplaudem a gente. Mas eu sei que um dia isso vai acabar. Eu não quero ser, assim, um ator profissional. Eu acho que não teria a menor chance. Eu quero trabalhar com informática. Eu estou estudando pra isso. Tem muito trabalho nessa área. (Gabriela desliga a câmera.) Sabia que você fica linda quando está gravando?
- Que é que vou fazer com isso, João? Isso é um documentário sobre o
grupo!
JOÃO LÓQUI. Ué, você não me pediu um depoimento sincero? Então, estou te dando um depoimento sincero. Eu acho que a gente podia pegar um cinema, que é que você acha?
Gabriela vira as costas para João e faz uma tomada de Catarina, sem que essa a
JOÃO LÓQUI. Seria legal, hein?
- O que?
JOÃO LÓQUI. Oras, um cineminha...
- Ai, João, que preguiça de você, viu?
Ela sai na direção do camarim. João continua martelando o cenário. Pouco depois,
Miguel entra pela porta da plateia. Traz uma mochila nas costas.
MIGUEL DIONISIO. João... João dos Reis! João “Lóqui” dos Reis! Que bela essa
cena: o homem, o martelo, a mulher surda ao fundo!
JOÃO LÓQUI. Fala, Miguel!
Miguel atravessa a plateia.
MIGUEL DIONISIO. Me dá um abraço aqui!
JOÃO LÓQUI. Meu Deus, quanta alegria. A noite de ontem deve ter sido longa!
MIGUEL DIONISIO. Eu estou feliz pelo ensaio de hoje. Estou animado como há
muito tempo eu não estava.
JOÃO LÓQUI. Com certeza, com certeza. Nada a ver com a noite de ontem, não é
mesmo?
MIGUEL DIONISIO. E ai, você leu?
JOÃO LÓQUI. O que?
MIGUEL DIONISIO. A cena nova.
JOÃO LÓQUI. Ah... Não. Me esqueci.
MIGUEL DIONISIO. Você não gosta, não é?
JOÃO LÓQUI. Como é que eu posso não gostar se eu nem li?
MIGUEL DIONISIO. Não é disso que eu tô falando. Você não gosta de ler, não é
verdade?
JOÃO LÓQUI. Não é que eu não gosto. Eu gosto, sim. Mas, sei lá, vai me dando sono.
MIGUEL DIONISIO. Os olhos vão embaralhando, não é?
JOÃO LÓQUI. Você também me acha tosco, não acha?
MIGUEL DIONISIO. Tosco?
JOÃO LÓQUI. O Davi me disse isso hoje. Que ele me acha tosco. Que eu tenho muita
testosterona pra fazer teatro. Ainda bem que eu tenho senso de humor, senão eu dava uns tapas nele.
MIGUEL DIONISIO. O Davi agora deu pra achar que nós somos dominados pelos
hormônios. Não dê bola pra ele. Temos muitos candidatos a poeta aqui dentro. Nós
precisamos da tua virilidade, João. Nós precisamos de gente pragmática aqui dentro, de gente com os dois pés na terra. Vocês fazem bem para a gente!
JOÃO LÓQUI. (João volta a martelar) Vai me tirar, você também!
MIGUEL DIONISIO. Eu tô falando sério, cara. Se eu fosse uma menina, eu piscaria
um olho pra você.
JOÃO LÓQUI. Mas como você não é menina, você piscou para a Carol e daí vocês foram dar uma voltinha ontem. E ai, como é que foi o fim da história?
MIGUEL DIONISIO. Digamos que o fim da história talvez esteja longe...
JOÃO LÓQUI. Ah, meu Deus! Miguel apaixonado! O lobo solitário foi picado pelo
deus do amor! Essa é nova!
MIGUEL DIONISIO. Eu estou apaixonado pelo teatro, isso sim. Meu trabalho é
insuportável. Passar seis horas por dia ouvindo reclamações de cliente não é vida pra ninguém. Esses dois meses de faculdade foram um engano. Aquela gente é muito cheia de certezas. Minha chance de ser feliz está aqui, meu amigo, no teatro, na arte. Eu não sei o que me deu quando eu resolvi sair do grupo, eu descobri que está a minha única esperança de salvação! Deixa eu te ajudar com isso. (Começa a martelar também)
JOÃO LÓQUI. Olha só como ele foge do assunto.
MIGUEL DIONISIO. Assunto? Que assunto? Nós estamos falando de alguma coisa?
JOÃO LÓQUI. Estamos sim, estamos falando de amor.
MIGUEL DIONISIO. Amor? O que é que é isso? Que cor ele tem? Quanto ele pesa?
Eu nunca vi isso que você está falando. Eu estou vendo um cenário que precisa ficar pronto. Só isso.
Felipe entra pela plateia, declamando.
- Escrever sobre amor
É fácil demais
Na mesma medida
Que é mentiroso
O difícil é te amar
Mais ainda é dizer meu amor
Impossível é te conjugar
Mesmo que sobrepujando a dor
E ai, o que é que vocês acham?
JOÃO LOQUI. Foi você quem escreveu?
- Sim.
JOÃO LÓQUI. Você é um poeta, Felipe.
- Pensei em colocar esse poema na minha cena.
JOÃO LÓQUI. Vai ficar legal.
- Que é que você acha, Miguel?
MIGUEL DIONISIO. Eu? Eu acho um poema bonito.
- Será que ficaria bom na peça?
MIGUEL DIONISIO. Se eu dissesse que não, isso mudaria alguma coisa?
- Você podia deixar suas agulhadas para depois do aquecimento. Com o corpo mais quente, eu lidaria melhor com elas.
JOÃO LÓQUI. (imitando um gongo) Téééin!!! Fim do primeiro round! Chega de
briga, meninos!
- (saindo em direção ao camarim, dirige-se à Catarina, que, evidentemente,
não o ouve nem o vê) Boa noite, Catarina. Um dia eu quero te comer.
Felipe sai. Pela porta da plateia, ouvimos Davi Ricardo, que entra carregando uma
mesa antiga, ajudado por Natália.
DAVI RICARDO (de fora). Abram espaço! Abram espaço ao cordeiro de Deus!
(entrando) Neste mês de fevereiro, um pobre desgraçado do grupo de teatro “O Minotauro” é submetido a um ritual conhecido como a procissão da mesa. Nas
escadarias de um velho hotel desativado ele pode ser visto carregando nas costas uma mesa de quase cem quilos... Cristo carregou a Cruz, Davi Ricardo, a mesa...
MIGUEL DIONISIO. Onde vocês conseguiram?
NATÁLIA. É a mesa da recepção do hotel. O seu Durval doou pra gente. É linda, não
é?
MIGUEL DIONISIO. Ela é incrível! Eu acho que a ela devia ficar embaixo de um
foco!
NATÁLIA. Sobe em cima dela, Davi. Vê se ela aguenta.
DAVI RICARDO. (subindo) Claro que ela aguenta. É uma mesa fortíssima. (dizendo
um trecho da peça) “Quem me ensinou a ter fé?”
NATÁLIA. Ótimo. Vamos terminar de arrumar o cenário. A gente precisa começar.
(todos se mobilizam nos últimos ajustes para a cena) O Felipe chegou?
JOÃO LÓQUI. Sim. Ele tá lá no camarim.
NATÁLIA. E a Pamela?
JOÃO LÓQUI. Ainda não.
NATÁLIA. E a Carol?
DAVI RICARDO. Carol não vem. Ela avisou que tinha prova do curso de inglês, lembra? I am a liar, You are a liar, he is a liar...
NATÁLIA. Tinha me esquecido. Bom, vamos começar o aquecimento.
DAVI RICARDO. Eu já tô fervendo, meu amor. Carregar essa mesinha me deixou
aquecido até dezembro. A Catarina, então, a pobrezinha já deve ter atingido a
iluminação, faz uma hora que ela está ai meditando... hoje ela vai fazer o ensaio mais brilhante de todos os ensaios que já foram feitos desde a Grécia!
JOÃO LÓQUI. A gente não vai esperar a Pamela chegar?
NATÁLIA. A gente tem até a semana que vem para gravar o vídeo da peça pra mandar pro festival... A peça tá um caos... Você acha que dá pra ficar esperando quem tá atrasado?
DAVI RICARDO. (para fora) Felipe!!! Mamãe tá chamando pra começar o ensaio!
Alguém faz um sinal para Catarina, que abre os olhos e percebe que o aquecimento vai começar. Felipe entra em cena.
- Boa noite, senhores.
Todos formam uma roda, dão-se as mãos e fecham os olhos.
NATÁLIA. Então, tá. Hoje a gente vai fazer um aquecimento rápido pra gente poder ter mais tempo pro ensaio. Vamos só relaxar o corpo e fazer um alongamento. Vamos manter o silêncio e assim que a gente acabar cada um toma sua posição e começamos a cena um, ok?
Todos seguem as instruções corporais de Natália.
DAVI RICARDO. Esses alongamentos esticam o corpo, mas comprimem o espírito.
NATÁLIA. (tranqüila, de olhos fechados) Psiu... Vamos nos encontrando com o
silêncio... vamos encontrando uma pulsação comum...
A porta da platéia abre. Pamela entra afobada. Veste um tailleur típico de uma representante de vendas ou algo semelhante.
- Desculpa, gente.
- Pedir desculpas todos os dias é fácil.
- Fácil é passar o dia em casa fazendo yoga e fumando maconha, benzinho.
Tem gente que precisa trabalhar pra viver, sabia? Pergunta pro meu patrão se ele tá preocupado com meu ensaio...
- A gente tem que pensar direito quando não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Pamela já se integrou à roda de aquecimento.
NATÁLIA. (olhos fechados) O silêncio... A pulsação comum...
- É difícil achar essa pulsação com gente fazendo aquecimento de salto
NATÁLIA. (olhos fechados) Você pode ficar descalça, Pamela. Pode ficar a vontade,
- (Encontram o silêncio. Alongam-se por mais uns instantes.) Agora, pouco a pouco, vocês podem tomar suas posições na cena.
João, Davi, Miguel, Felipe, Pamela e Catarina distribuem-se pelo palco, nas posições
em que iniciam a peça. Natalia, com um caderno, senta-se numa extremidade do palco, próxima à boca de cena. Gabriela posiciona-se com sua câmera.
- (Coluna ereta, voz elevada, com um sino na mão) Quem somos nós? (toca o
sino) Senhoras e senhores, o Minotauro apresenta “A Tormenta”, uma história sem
história, o sonho de um sonho, talvez... (toca o sino)
TODOS EM CENA. Cordeiro de Deus,
que tirais os pecados do mundo
Daí nos a paz, Daí nos a paz...
DAVI RICARDO. Quem me ensinou a ter fé?
Felipe toca o sino por três vezes.
JOÃO. Se todos pudessem,
Não seria bom se todos pudessem?
Mas muitos só querem muito, aqui, onde nem todos podem
Muitas vezes ignoramos, ou somos ignorados
Ou até somos impedidos ou impedimos com falas e ações
Mas uma coisa eles não podem impedir que você faça
Isso é sonhar e quando você sonha, adivinha?
Só você pode.. .( Poema de Lucas Paconio)
- (Para Miguel) Vem, senta aqui do meu lado, e deixa o mundo girar...
jamais seremos tão jovens...(de “A Megera Domada”, de Shakespeare)
MIGUEL DIONISIO. “Eu não sei o que eu quero do mundo, mas eu sei que esse
mundo não é o que eu quero. Eu não sei o que eu quero do amor, mas eu sei que é você quem eu amo.”
Felipe toca o sino.
NATÁLIA. (interrompendo) Cá... Tenta fazer a tua fala com um pouquinho mais de
emoção?
- Mais?
NATÁLIA. Sim.
- Tem certeza?
NATÁLIA. Só para a gente experimentar.
- (Ela fecha os olhos e se concentra) “Vem, senta aqui do meu lado, e
deixa o mundo girar... jamais seremos tão jovens...”
Pamela explode em uma crise de riso. Felipe a repreende com o olhar.
- Desculpa. Desculpa. Foi mal.
NATÁLIA. (ignora Pamela e dirige-se a Catarina) Um pouquinho mais delicada,
Catarina fecha os olhos. Concentra-se. E então, senta-se sobre um cubo e começa a
- Isso não é pra mim.
Os outros se aproximam dela.
NATÁLIA. Que foi, Cá?
- Não é. Simplesmente não é. A gente tem que ter coragem de reconhecer isso na vida. Isso simplesmente não é pra mim.
NATÁLIA. Que bobagem, menina. Vem. Tá ficando bom.
- Não! Não está ficando bom! Está ficando cada vez pior. Eu estou cada
vez mais perdida! Quando eu falo esse texto parece que tem pedras na minha boca! Eu sou pequena! Eu sou uma atriz pequena! Eu não sirvo pra isso! Eu desisto! Eu
definitivamente desisto disso! Talvez eu possa ajudar vocês nos figurinos, talvez eu
possa ajudar vocês na mesa de luz, mas aqui? Não! Aqui, não!!
Ela levanta-se e sai correndo pelas coxias. Os demais se entreolham. Natália decide ir
atrás dela. Os outros a seguem, à exceção de Pamela. Felipe é o último a sair.
- Isso não se faz. Você foi escrota, Pamela. (sai)
Pamela pega seu tailleur, calça seus saltos e sai pela plateia. Miguel volta à cena. De
cabeça baixa, pega o sino de Felipe e senta-se sobre um dos cubos. Toca-o, bem leve.
De repente, a porta da plateia se abre.
ANA CAROLINA. Miguel?
MIGUEL DIONISIO. Carol?
ANA CAROLINA. Oi.
MIGUEL DIONISIO. Você veio??
ANA CAROLINA. É o que parece, não é?
Ela chega ao palco. Eles se abraçam.
MIGUEL DIONISIO. Você está linda!
ANA CAROLINA. Você está brincando comigo... Você não está vendo o tamanho das
minhas olheiras... Dormi duas horas esta noite e trabalhei o dia inteiro.
MIGUEL DIONISIO. Eu estou muito feliz pra enxergar olheiras no rosto de alguém.
ANA CAROLINA. Aconteceu alguma coisa por aqui? A Pamela acabou de passar por
mim e nem me cumprimentou. Ela estava espumando.
MIGUEL DIONISIO. Uma briguinha. Uma bobagem. Logo passa.
ANA CAROLINA. Cadê todo mundo?
MIGUEL DIONISIO. Eles estão lá no camarim consolando a Catarina. Ela teve um
ANA CAROLINA. Eu desisti da prova. Fiquei olhando para aquelas perguntas sem ter a menor ideia do que fazer com aquilo. A minha cabeça está tão cheia. Então eu resolvi entregar a prova em branco. (Ri)
MIGUEL DIONISIO. Ontem a noite foi lindo pra mim, sabia? Eu cheguei em casa e
fiquei escrevendo até o sol nascer. Não preguei os olhos, mas é como se eu não
precisasse mais dormir...
ANA CAROLINA. Mas você odiou a peça, não é?
MIGUEL DIONISIO. (sorrindo) Peça? A gente viu alguma peça?
ANA CAROLINA. Uma peça e um debate sobre a peça.
MIGUEL DIONISIO. Só me lembro do que aconteceu depois disso. Eu e você juntos.
Só isso.
ANA CAROLINA. Você estava com uma cara péssima durante o debate.
MIGUEL DIONISIO. Acho que estou me lembrando do que aconteceu ontem. Eu não vi uma peça. Eu vi duas. A primeira era uma peça ruim feita no palco. A segunda começou quando sentamos para debater a primeira. Eu não entendo esses debates. É um espetáculo de mentiras. Aquela gente se sentindo forçada a elogiar uma coisa que evidentemente não interessou tanto a ninguém...
ANA CAROLINA. Eu sempre aprendo alguma coisa. Sempre sai alguma coisa boa. A
Valéria dizia isso para a gente: as pérolas nascem dentro das ostras, não é?
MIGUEL DIONISIO. Bom, eu acho que isso pode ser interpretado de várias formas...
Ela sorri. Ele também.
MIGUEL DIONISIO. Ma você não veio até aqui pra debater o debate, não é?
Eles se olham por um tempo.
ANA CAROLINA. (sorrindo) Eu... eu senti a tua falta hoje.
Davi Ricardo entra.
DAVI RICARDO. Carol!!! How are you, darling?!? Gente, você perdeu o bafão!
Tivemos um episódio de bullying em pleno ensaio! A gente devia chamar o SPTV! Eles adoram bullying! (percebe o clima romântico) Hum... eu acho que alguém tá sobrando aqui dentro, não é? Davi Ricardo sai de cena. Ele também tem direito de procurar um namorado. Tchau! (sai, cantando) “Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo...”
MIGUEL DIONISIO. Você quer ir lá pra casa hoje?
ANA CAROLINA. Tua casa?
MIGUEL DIONISIO. Você podia dormir lá, comigo.
ANA CAROLINA. Eu tô muito cansada. Amanhã eu preciso trabalhar.
MIGUEL DIONISIO. Vem. Te prometo que você vai ter bastante tempo pra dormir.
ANA CAROLINA. Um outro dia.
MIGUEL DIONISIO. Ontem pra mim não foi uma noite qualquer. (Ana Carolina não
responde) Você não vai falar nada?
ANA CAROLINA. Eu tô muito confusa.
MIGUEL DIONISIO. Eu também.
ANA CAROLINA. Eu não sei se a gente devia sair de novo. Ontem foi bom. Mas
talvez tenha sido só isso.
MIGUEL DIONISIO. Vem aqui. Eu sei que você está com a Pamela na cabeça. (Ela
se aproxima) Mas eu quero que você saiba que o que eu tive com a Pamela não foi
sério. Mas com você... com você eu não tô brincando.
ANA CAROLINA. Não tem a ver com a Pamela. Nós somos pessoas muito diferentes, Miguel. Nós queremos coisas muito diferentes da vida.
MIGUEL DIONISIO. Por que é que você desistiu da tua prova e veio pra cá, Ana? Porque?
Eles se beijam. João entra em cena e flagra os dois. Observa-os, sem ser percebido.
Então, faz o som de um beijo. O casal assusta-se e olha em sua direção.
JOÃO LÓQUI. Hum, que beijinho mais gostoso!!!